Portuguese

By Luciana Gattass, 9 November, 2012
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9-16
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Abstract (in English)

Being fascinated by the dynamics and the potential which medial technologies offer for the artistic investigation of materiality and the individual and social use of language, the poetological concept of the show formulated a key idea which is still reflected in the subtitle of the recent “poiesis”-exhibition: the difference between program and pixel, or between a perception proposition and the ‘underlying’ code. In his foreword to the small catalogue from 1992, André Vallias describes this crucial distinction from the code perspective: “Data dissolve the borders between bodies, surfaces, sounds, words, dots, tones, letters and numbers”.1 Accordingly, the show’s title “p0es1e” exemplifies the difference by intertwining the sign systems of perceivable writing and the digital code normally used to program in an ‘unobservable’ way what can be perceived. Observing the unobservable in language, is surely one of the core characteristics of experimental poetry. The conceptual fusion of different dimensions and uses of languages is still a prominent procedure of poetic reflexivity. Dick Higgins had formulated his concept of poetic intermedia along these lines, in 1965. And so a light is shone on the very ‘nature’ of language, its material, semantic, and performative phenomenology, which is constantly changing under social, media technological, and aesthetic conditions.

Abstract (in original language)

O conceito poetológico da exposição, interessado pela dinâmica e pelo potencial que as tecnologias midiáticas oferecem à investigação artística da materialidade e ao uso individual e social da linguagem, formulava uma idéia central que ainda aparece no subtítulo da recente exposição POIESIS: a diferença entre programa e pixel, ou entre uma proposta de percepção e o código ‘subjacente’. No seu prefácio ao pequeno catálogo de 1992, André Vallias descreve esta distinção crucial a partir da perspectiva do código: “Os dados dissolvem os limites entre corpos, superfícies, sons, palavras, pontos, tons, letras e números.”1 Assim, o título da mostra, “p0es1e”, exemplifica esta diferença ao entrelaçar os sistemas de signos da escrita perceptível e o código digital normalmente usado para programar numa forma “não-observável” o que pode ser visto. Observar o não-observável na linguagem é certamente uma das características essenciais da poesia experimental. A fusão conceitual das diferentes dimensões e usos das linguagens é ainda um procedimento proeminente da reflexividade poética. Dick Higgins formulara seu conceito de intermeios poéticos nesses termos, em 1965. De maneira que uma luz é lançada sobre a ‘natureza’ mesma da linguagem, sua fenomenologia material, semântica e performativa, que se transforma constantemente sob condições sociais, estéticas e tecnológicas.

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A exposição “p0es1e” aconteceu numa cidade onde um dos mais interessantes artistas da linguagem do século 20 viveu: Carlfriedrich Claus (1930-1998). Na atmosfera politicamente opressiva da Alemanha Oriental, que dificultava a arte avançada (o “muro” caiu três anos antes de nossa exposição), Claus trabalhou num programa poético complementar ao uso investigativo das tecnologias de mídia digitais. Seu trabalho com processos de som e ‘speechsheets’ (literalmente ‘folhas de discurso’, como ele as nomeava), centrava-se nos meios ‘arcaicos’ da voz e da escrita à mão.

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November of 1960, date of the “Electric Poem”, by Albertus Marques (1930-2005), can be considered as the pioneering time of a poetic experience with the electronic media. It is

"one electric poem, in which the energy is supplied through piles. The reader pushes a button and it appears in the center of the screen - white field - the word END. Until the moment that the person completes the action of pushing the contact, anything is revealed, or else, the possibility and the power of an action. As soon as the reader releases the button, the word disappears, therefore its emergence and permanence depend exclusively on the action of pushing the contact." (MARQUES, 1977, p. 156).

To the similarity of the future electronic poetries, and reminding the 0 and 1 of the binary system, the poem demands the reader's interaction that will produce meanings starting from the white field, button and of his/her initiative of pressing it.

(Source: Jorge Luiz Antonio, 2008: 19)

Pull Quotes

one electric poem, in which the energy is supplied through piles. The reader pushes a button and it appears in the center of the screen - white field - the word END. Until the moment that the person completes the action of pushing the contact, anything is revealed, or else, the possibility and the power of an action. As soon as the reader releases the button, the word disappears, therefore its emergence and permanence depend exclusively on the action of pushing the contact. (Marques 1977: 156)

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Ouroboros is a visual poem whose words are surrounded by the connection wire of a computer. It associates words and image of the cyberculture. "Ouroboros" is the metaphor of the ouroboros, a circular symbol of a snake or dragon devouring its tail, standing for infinity or wholeness, which starts to represent the connections of the human beings to the world of the computer science, therefore, an electronic uroboros.

(Source: Jorge Luiz Antonio)

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By Luciana Gattass, 8 November, 2012
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17-34
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2
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Abstract (in original language)

Este artigo é um breve estudo sobre a poesia eletrônica no Brasil, sob enfoque histórico e num percurso a partir do uso das tecnologias do século XX e XXI (rádio, cinema, vídeo, computador, internet, web) que vem produzindo uma poesia que reúne palavra, imágem (estática e/ou animada) e som nos meios eletrônico-digitais (videopoesia, holopoesia, poesia eletrônica) usando a interface, a interatividade, a hipertextualidade e a hipermídia.

(Source: Author's Abstract)

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By Luciana Gattass, 7 November, 2012
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273-281
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Abstract (in English)

The social appropriation of digital technologies for music creation, recording and distribution has generated, among other factors, an intense reorganization of the long established patterns of consumption, requiring an overhaul of the business models of the phonographic industry, and a strengthening of the so-called indie music scene. In this reconfiguration of the music production chain, new players enter the scene – such as mobile phone carriers – and the long-standing oligopoly of the four major players (Sony-BMG, Universal, Warner and EMI) are under considerable threat. The polemical issue of cyberpiracy needs to be examined in the light of the new consumer practices in play within cyberculture. This paper analyzes the results of a field study conducted with college students from the two major megalopolises in Latin America: São Paulo and Mexico City. The research was coordinated by the author, in partnership with Dr. Octavio Islas, Chair of the Cyberculture Department at the Monterrey Institute of Technology. Our comparative study focused on the new consumer practices of Brazilian and Mexican college students on the Internet. Their views on common practices in cyberculture, such as file sharing and remixing, are considered here. Methodological issues that permeated this research are also discussed.

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Abstract (in original language)

A apropriação social de tecnologias digitais de criação, gravação e distribuição de
música tem ocasionado, entre outros fatores, intensa reorganização nos padrões de consumo,
ensejando uma revisão dos modelos de negócio da indústria fonográfica majoritária e o
fortalecimento da chamada produção independente. Na reconfiguração em curso na cadeia
produtiva da música, novos atores entram em cena – como as operadoras de celular – e o longo
oligopólio das quatro majors (Sony-BMG, Universal, Warner e EMI) sofre significativos
abalos. A polêmica acerca da ciberpirataria necessita ser examinada à luz das novas práticas de
consumo vigentes na cultura digital. O presente texto faz uma análise dos resultados de
pesquisa de campo realizada junto ao público universitário nas duas principais megalópoles
latino-americanas, São Paulo e Cidade do México, através de parceria firmada com o Prof. Dr.
Octavio Islas, titular da cátedra de cibercultura no Instituto Tecnológico de Monterrey, México.
Nosso estudo comparativo teve como foco central práticas de consumo musical de jovens
brasileiros e mexicanos pela Internet, bem como suas percepções acerca de outras práticas da
cibercultura, como o compartilhamento e o remix. São discutidas ainda questões metodológicas
que permearam a pesquisa.

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Verifica-se que as principais estratégias do discurso publicitário teriam como finalidade última associar marcas, bens e serviços a significados simbólicos intangíveis que configuram o imaginário social. Mais ainda, de modo a atingir este objetivo, os significados simbólicos escolhidos para cada campanha devem favorecer a identificação com a experiência subjetiva dos consumidores que perfazem o público-alvo daquela marca, daquele serviço ou produto. Somada à sua função mais imediata de informar sobre novos lançamentos, vemos que a publicidade participa substancialmente da disseminação e padronização de valores subjacentes a estilos de vida e interações sociais. Numa época em que há uma predominância de bens e serviços muito semelhantes, a marca ou griffe funciona como característica de distinção e
classificação em um mercado fortemente segmentado.

By Luciana Gattass, 7 November, 2012
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189-205
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Abstract (in English)

This article is a case study of the Brazilian version of the global online dating site called Match.com. We analyze here how the site mediates relationship problems and intimate conflicts between men and women that emerge as a result of the incorporation of these conflicts into co-modified protocols of social interaction since the end of the 20th century. This first part of this article summarizes the findings of our reading of a sample of letters sent to the site. We then make an interpretive analysis of these findings, stressing their meaning as a sign to understand the power regimes underlying our cyberculture. Special attention focuses on its impact on the forms of sociability that develop on this new basis of the civilizing process.

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Abstract (in original language)

O trabalho expõe e comenta, por meio do resumo de estudo de caso, a forma como os sites de encontro entre homem e mulher na Internet agenciam os conflitos íntimos e problemas de relacionamento que emergem com a subsunção desses conflitos aos protocolos de interação mercantil, desde o final do século XX. A primeira parte apresenta e documenta o fenômeno, sumariando os achados de um trabalho de leitura da correspondência enviada aos sites de serviço mencionados. A segunda procede à análise interpretativa desses achados, procurando argumentar que o fenômeno, em sua aparente irrelevância de significado, constitui, na verdade, bom sinal para se conhecer os regimes de poder que subjazem à cibercultura e para se especular sobre qual o seu impacto nas formas de sociabilidade que se articulam nessa nova plataforma do processo civilizatório.

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A presença do tema em suas capilaridades comprova que ele tem fundamento no processo histórico de formação do nosso mundo e, portanto, é algo que tem a ver com essas instituições tanto quanto com o nosso modo de ser mais originário: ele é um fenômeno enraizado e, só por isso, mitológico. A circunstância de o amor ser algo sobre o qual precisamos nos manifestar, algo com o que nos expressamos como coletividade, não pode nos fazer esquecer a forma concreta em que esse mito se articula, o que remete, em nossa análise, não apenas para a exploração mercantil do qual é alvo, mas para o fato de ele haver passado a ser agenciado como mercado em escala ainda mais avançada com o advento da Internet.

By Luciana Gattass, 7 November, 2012
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113-125
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Abstract (in English)

This paper examines scopic and attentional regimes that are present in surveillance systems and practices in contemporary cities. I intend to show that such regimes involve not only control procedures, but also pleasure circuits, updating the interplay between surveillance and spectacle in contemporary culture. Three fields of research will be prioritized: the incorporation of video surveillance in public and semi-public spaces, the production and distribution of amateur images, and the cartographic information systems of visualization of urban space.

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Abstract (in original language)

O artigo analisa regimes escópicos e atencionais presentes em dispositivos e práticas de vigilância nas cidades contemporâneas. Pretende-se mostrar como tais regimes envolvem não apenas procedimentos de controle, mas também circuitos de prazer, atualizando as relações entre vigilância e espetáculo na cultura contemporânea. Nesta mistura de controle e prazer, destacam-se uma lógica e uma estética do flagrante, presentes no olhar e na atenção vigilantes sobre a cidade e os indivíduos que nela circulam. Três campos de análise serão privilegiados: a incorporação da videovigilância aos espaços públicos e semipúblicos, a produção e difusão de imagens amadoras e os sistemas informacionais e cartográficos de visualização do espaço urbano.

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Uma brevíssima e seguramente incompleta apresentação da paisagem atual da vigilância urbana nos servirá de preâmbulo à análise dos processos aqui em foco. A paisagem é extremamente múltipla e complexa não apenas por conta da miríade de dispositivos de vigilância espalhados pelas cidades, mas também pela multiplicidade de funções, propósitos e afetos que os atravessam. Comecemos pelos dispositivos: câmeras de vigilância em lugares públicos, semipúblicos e privados, webcams pessoais ou institucionais, sistemas de controle de trânsito (câmeras, pardais, radares), sistemas de geolocalização (GPS5, GIS6, RFID7), fronteiras e portões eletrônicos (senhas e cartões de acesso, scanners para pessoas e bens/produtos), mecanismos de autenticação e controle de identidade (cartões de identidade e dispositivos de identificação biométrica), tecnologias de informação e comunicação (computadores, telefones celulares), redes de monitoramento e cruzamento de dados informacionais, sistemas informacionais de coleta, arquivo, análise e mineração de dados (bancos de dados, perfis computacionais), entre outros. Alguns destes dispositivos tendem a funcionar conjuntamente, refletindo, no campo da vigilância, uma tendência à “convergência tecnológica” presente em
outros setores, como o das telecomunicações. A combinação de sistemas de videovigilância, bancos de dados, identificação biométrica e tecnologias de monitoramento, por exemplo, é cada vez mais comum e o uso de sistemas “inteligentes” interconectados tende a ser utilizado para
monitorar movimentos e comportamentos de milhões de pessoas no espaço e no tempo. Além disso, nota-se que nem todos estes dispositivos estão direta ou intencionalmente voltados para o exercício da vigilância; esta, em muitos casos, é efeito ou característica secundária de um
dispositivo cuja função primeira é outra – um telefone celular com câmera, por exemplo, tem uma função primeira de comunicação e registro visual, mas pode ser apropriado como uma câmera de vigilância em certas ocasiões, tal como aconteceu no caso do enforcamento de Sadam Hussein, no atentado a bomba no metrô de Londres, entre muitos outros casos.

By Luciana Gattass, 7 November, 2012
Publication Type
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Publisher
Pages
264-273
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Abstract (in English)

The entertainment industry has been revolutionized by digital media. Our interest in these changes lies in the current entertainment products, which seem to require not only mental activities but also bodily and cognitive actions that are inseparable from the content skills whereby we judge traditional mass culture. Since these skills require training in many areas, we have decided to call them cognitive competencies. This paper examines the cognitive competencies that are required and stimulated in the user’s interaction with modern entertainment products. A preliminary investigation prompts us to propose that these cognitive competencies are sensory, logical, creative, social, and cybertextual.

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Abstract (in original language)

As mídias digitais têm revolucionado a indústria de entretenimento. O interesse nessas
mudanças recai sobre os produtos de entretenimento atuais que parecem demandar não apenas
atividades mentais, mas também a ação do corpo e de formas cognitivas, irredutíveis às habilidades
conteudísticas pelas quais julgamos a cultura de massa tradicional. Por se tratar de habilidades
que requerem capacitação em diversas áreas, decidimos denominá-las competências cognitivas. O objetivo do presente texto é investigar quais competências cognitivas estariam sendo requeridas e estimuladas nas práticas comunicativas do usuário dos produtos de entretenimento contemporâneos. Uma investigação preliminar nos encoraja a encaminhar a hipótese de que seriam as seguintes: sensoriais, lógicas, criativas, sociais e cibertextuais.

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Os produtos de entretenimento atuais parecem demandar não apenas atividades mentais, mas também a ação do corpo e de formas cognitivas (como as inteligências social e emocional), irredutíveis às habilidades representacionais e conteudísticas pelas quais costumamos julgar a cultura de massa. Por se tratar de competências que requerem capacitação em diversas áreas decidimos denominá-las por competências cognitivas.

By Luciana Gattass, 6 November, 2012
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Pages
30-37
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Abstract (in English)

Opening speech for the 2nd National Symposium of ABCiber – Brazilian Association of Cyberculture Researchers (PUC-SP, 10-13 Nov 2008), intended as a memory of the intellectual and institutional context of the articles compiled in this work. The article discusses the advances achieved in relation to the data presented in the opening speech of the previous Symposium (PUC-SP, 25-29 Sep 2006), upon the foundation of ABCiber, especially insofar as it refers to the collective work of progressive construction of the field of studies about the relationships between digital technologies/networks, their modalities of collective and individual appropriation, and the social, cultural, political, and economic organization of contemporary transnational capitalism. After a brief mention of the dialectics of cyberculture – which is taken as the designation of the most current phase of the aforementioned social-historical formation –, to evoke the self-betrayal of the freedom of information (i.e., freedom of access to and individual retransmission of information) pertaining to this dialectics since the North American movement of microelectronics in the 1970s, this article reveals that, largely due to ABCiber’s contribution, the national scenario of research into cybercultural themes has prospered and transformed into a specific interdisciplinary scientific and cultural field within the ambit of the social division of intellectual labor in Brazil and abroad, with probable consequences for the composition of CAPES and FINEP’s new Knowledge Area Chart (KAC) – which, on the whole, cannot proceed without being tied simultaneously to the ongoing consolidation of ABCiber itself. Following in this vein, the discussion broaches the basic characteristics (structural and dynamic) of the aforementioned field of studies, with special emphasis on the intellectual and institutional responsibility its construction entails: that of transforming it into a privileged operational locus of observation and discourse for the fulfillment of the theoretical and critical mission of understanding the operational logic, tendencies and horizons of advanced mediatic civilization, with the intention of satisfying, to the greatest possible extent, the cognitive arrears engendered by the crisis of traditional and modern paradigms, in substitution of the mission heretofore entrusted to Sociology, Political Economy, Political Philosophy, Anthropology and Psychoanalysis, among other particular disciplines.

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Abstract (in original language)

Conferência de abertura do II Simpósio Nacional da ABCiber - Associação Brasileira de Pesquisadores
em Cibercultura (PUC-SP, 10-13 nov. 2008), prevista como memória de contexto intelectual
e institucional dos artigos reunidos nesta obra. A argumentação abarca avanços em relação aos dados apresentados na conferência de abertura do Simpósio anterior (PUC-SP, 25-29 set. 2006), de fundação da ABCiber, especialmente no que se refere ao trabalho coletivo de construção progressiva do campo de estudos sobre as relações entre tecnologias/redes digitais, suas modalidades de apropriação coletiva e individual, e a organização do social, da cultura, da política e da economia no capitalismo transnacional contemporâneo. Após sucinta menção à dialética da cibercultura – esta tomada como designação da fase mais atual da mencionada formação social-histórica –, para evocar a autotraição da liberdade de informação (vale dizer: liberdade de acesso à e de retransmissão individual da informação) atinente a tal dialética desde o movimento norte-americano da microeletrônica na década de 70 do século passado, o texto constata que, muito em função da contribuição dada pela ABCiber, o recorte nacional de pesquisas sobre as temáticas da cibercultura prospera progressivamente para se transformar num campo científico e cultural interdisciplinar específico no âmbito da divisão social do trabalho intelectual no Brasil e no exterior, com prováveis consequências para a composição da nova Tabela de Áreas do Conhecimento (TAC) da CAPES, do CNPq e da FINEP – fato que, no todo, não caminha senão simultaneamente à consolidação in progress da própria ABCiber. Em compasso subsequente, a argumentação reúne as características básicas (estruturais e dinâmicas) do mencionado campo de estudos, concedendo especial atenção à responsabilidade intelectual e institucional contraída por sua construção: a de transformá-lo num locus privilegiado de observação e fala em cumprimento à missão teórica e crítica de compreensão da lógica operacional, das tendências e dos horizontes da civilização mediática avançada, com a
intenção de saldar, no quanto possível, a dívida cognitiva aberta pela crise de paradigmas tradicionais e modernos, em substituição à missão antes confiada à Sociologia, à Economia Política, à Filosofia Política, à Antropologia e à Psicanálise, entre outras disciplinas particulares.

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Uma palavra mais sobre o aspecto cognitivo de nosso desafio e de nossa missão. Na década de 20 do século XIX, Marx alegou, no último trecho de 11 teses sobre Feuerbach,que os filósofos até então haviam se disposto a interpretar o mundo e que, a partir dali, o que cabia a todos era um caminho diverso: o de transformá-lo, no que isto significava em matéria de superação do modo de produção econômico vigente. Pouco mais e um século depois, Adorno, por sua vez, advertiu, em franco rigor dialético, equivalente ao de Marx e também atento a extrair consequências exaustivas do aprendizado histórico, que o resultado a que nos havia levado a ação de transformação do mundo – esta, de esquerda marxista-leninista e stalinista, que dirá a de direita, a de seu tempo, hitlerista, como os vezos fascistas de agora – não representou senão a restauração da barbárie em novas bases. Do que depreendemos de sua sinalização, a evocar a célebre metáfora que utilizou acerca da garrafa lançada em alto
mar com um recado de dignidade aos pósteros, podemos certamente dizer que, diante de tempos obscuros, nos quais até uma promessa mínima de emancipação ou redenção possível se vê traída, cabia-nos, a partir de meados do século XX, como também agora, com base num
ensinamento pungente, empreender um recuo estratégico para um dia voltar a compreender novamente o mundo e, assim, garantir, com o saber acumulado, aos indivíduos vindouros uma oportunidade objetiva de ação mais clara e consistente, quem sabe transformadora, sem os
vícios imperdoáveis dos predecessores.

By Luciana Gattass, 6 November, 2012
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Language
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135-156
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Abstract (in English)

This essay discusses the emergence of lifestyles under the paradigm of urban life, based on the results of research on interface design for mobile connections in ubiquitous computing with pervasive and sentient interfaces, which generate cybrid (cyber+hybrid) scenarios for co-located beings that act in physical and digital space. Artistic creation using software art writes programs and uses hardware that convey a sense of presence and action, with digital collage adding information about the physical scene. The digital material is pasted in layers onto the physical space, redesigning places, reconfiguring actions, and mixing realities in a cybrid manner. In other words, locative and mobile interfaces reconfigure the sense of presence by blending in the digital material that adds information to locations. Computers mix into the periphery through transparent interfaces, enabling enactions and affordances in quotidian actions in calm connections with transparent interfaces. Instants are experienced through computers, which become invisible in portable and mobile technologies: cell phones, PADs, displays, computational vision, tags, RFID, Bluetooth, wearable computers, geolocators, trackers, GPS, SMS, MMS, make us co-exist here and there. Augmented Reality (AR) and Mixed Reality (MR), social platforms, perceptual and affective computing, wearable computing, among other examples from various artists and scientists, are discussed here.

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Abstract (in original language)

O ensaio discute a emergência de modos de viver sob o paradigma da vida urbana misturada a partir dos resultados de pesquisas em design de interface para conexão móvel, em computação ubíqua, com interfaces pervasivas e sencientes, que geram cenários cíbridos (ciber+híbrido) para seres co-locados, que agem no espaço físico e no espaço digital. A criação artística em Software Art escreve programas e usa hardwares que propiciam o sentido de presença e de ação, com o digital agregando informações sobre a cena. O digital cola-se em camadas sobre o espaço físico, redesenhando lugares, reconfigurando ações e misturando realidades de maneira cíbrida. Em outras palavras, interfaces locativas e móveis reconfiguram o sentido de presença por mesclas do digital, que agrega informações a locais. Computadores se misturam à periferia por interfaces transparentes e propiciam enactions e affordances nos atos cotidianos, em conexões calmas com interfaces transparentes. Átimos sãos vividos conectados a computadores que se tornam invisíveis em tecnologias portáteis e móveis: celulares, PADs, displays, visão computacional, tags, RFID, Bluetooth, computadores vestíveis, geolocalizadores, rastreadores, GPS, SMS, MMS nos fazem co-existir aqui e acolá. Realidade aumentada (RA) e realidade mista (RM), plataformas sociais, computação perceptiva e afetiva, computação vestível, entre outros exemplos de vários artistas e cientistas, são discutidos no ensaio.

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Arte e tecnociência na interface humano-computador exploram o design de interface para a vida urbana misturada, em direção ao sentido de presença e de ações humanas que se dão pela tatilidade ou pelo ato de tocar o mundo com dispositivos tecnológicos. A realidade, que sempre foi um conceito filosófico, mais do que pura materialidade, é concebida redesenhada e refuncionalizada: conexões desplugadas e móveis em realidade aumentada e misturada passam a acontecer num espaço que permite compartilhar o sentido de presença em ambos os mundos – no real e no virtual – no espaço físico e no espaço de dados, em ações que se fazem por mútuas relações com ambos os ambientes, em comunicação distribuída. O co-existir, co-locado no ambiente físico e no digital confirma a condição humana biocíbrida de nossos tempos. Trata-se de uma existência cíbrida, num topos que gera um local diverso para um tipo de existir e de agir que antes dos dispositivos móveis não era possível. Em Artes, a aparência ou os “ modos de ver” são trocados pela experiência comunicacional, como “modos de usar” dispositivos de hardware e diferentes softwares embutidos nos dispositivos de conexão (HUHTAMO, 2004).