This article is a case study of the Brazilian version of the global online dating site called Match.com. We analyze here how the site mediates relationship problems and intimate conflicts between men and women that emerge as a result of the incorporation of these conflicts into co-modified protocols of social interaction since the end of the 20th century. This first part of this article summarizes the findings of our reading of a sample of letters sent to the site. We then make an interpretive analysis of these findings, stressing their meaning as a sign to understand the power regimes underlying our cyberculture. Special attention focuses on its impact on the forms of sociability that develop on this new basis of the civilizing process.
O trabalho expõe e comenta, por meio do resumo de estudo de caso, a forma como os sites de encontro entre homem e mulher na Internet agenciam os conflitos íntimos e problemas de relacionamento que emergem com a subsunção desses conflitos aos protocolos de interação mercantil, desde o final do século XX. A primeira parte apresenta e documenta o fenômeno, sumariando os achados de um trabalho de leitura da correspondência enviada aos sites de serviço mencionados. A segunda procede à análise interpretativa desses achados, procurando argumentar que o fenômeno, em sua aparente irrelevância de significado, constitui, na verdade, bom sinal para se conhecer os regimes de poder que subjazem à cibercultura e para se especular sobre qual o seu impacto nas formas de sociabilidade que se articulam nessa nova plataforma do processo civilizatório.
A presença do tema em suas capilaridades comprova que ele tem fundamento no processo histórico de formação do nosso mundo e, portanto, é algo que tem a ver com essas instituições tanto quanto com o nosso modo de ser mais originário: ele é um fenômeno enraizado e, só por isso, mitológico. A circunstância de o amor ser algo sobre o qual precisamos nos manifestar, algo com o que nos expressamos como coletividade, não pode nos fazer esquecer a forma concreta em que esse mito se articula, o que remete, em nossa análise, não apenas para a exploração mercantil do qual é alvo, mas para o fato de ele haver passado a ser agenciado como mercado em escala ainda mais avançada com o advento da Internet.