Lá pelos idos da primeira década do nosso século, no turbilhão dos movimentos de vanguarda, o desenvolvimento da linguagem cinematográfica levou Guillaume Apollinaire a afirmar que a era da tipografia havia chegado ao fim e que no futuro o poeta conheceria liberdades que naquele momento não eram sequer imagináveis. Se o famoso poeta calígrafo-cubista pecou ao ser taxativo sobre a futura simbiose entre a poesia e as artes gráficas, não se equivocou ao sentenciar profeticamente que a poesia ainda seguiria rumos imprevisíveis. Da mesma forma que a galáxia de Gutenberg provocou profundas alterações na cultura humana e a eletrônica, em plena era da telemática, é responsável igualmente por mudanças radicais -- a holografia traz um contundente questionamento das formas convencionais de percepcão visual e, ao introduzir um método de registro tridimensional, abre possibilidades totalmente novas nos campos da expressão artística e do conhecimento científico.
Meu primeiro poema holográfico foi realizado em dezembro de 83, com Fernando Eugênio Catta-Preta, em seu laboratório, em São Paulo. O anagrama paronomástlco HOLO/OLHO foi holografado (caixa alta, corpos grandes e pequenos) cinco vezes. Depois criei uma espécie de holocollage, fragmentando e remontando as quatro imagens pseudoscópicas do poema. A imagem pseudoscópica é o avesso da imagem que reproduz o objeto assim como foi holografado (ou imagem ortoscópica). Desta forma, o poema é a interpenetracão tridimensional das palavras esculpidas em luz. Cada fragmento é concebido simetricamente a formar uma leitura em círculo: as duas palavras possuem quatro letras e as duas primeiras letras de "OLHO" (corpos pequenos) formam "olho" com as duas primeiras letras de "HOLO" e as duas últimas formam "holo" com as duas últlmas de "HOLO" (corpos grandes). Pares de "O" ainda sugerem olhos humanos.